UMA LENDA DA “JUSTIÇA DE FAFE”


Existem várias versões de lendas relacionadas com a famosa “Justiça de Fafe”.

A meu ver, das quatro lendas que chegaram aos nossos dias, esta que aqui transcrevo da terceira edição da Monografia da Freguesia de Fafe, apresentada em 2008, é a que melhor se adapta à iconografia do monumento à “Justiça de Fafe”, inaugurado em 23 de Agosto de 1981, nas traseiras do Tribunal local.

Contudo, estamos a fazer uma abordagem ao imaginário popular, como tal, todas as lendas merecem a nossa apreciação. Algumas até podem conter uma nesga de realidade.



Reprodução do primeiro postal ilustrado alusivo `"Justiça de Fafe", publicado em 1907


«Um jovem rapaz filho de gente humilde, no dia das festas de Nossa Senhora da Misericórdia ou Senhora de Antime, enquanto assistia à passagem da procissão, viu a sua “trigueira”, bela e amada namorada ser apalpada no “traseiro” por um abastado fidalgo que visitava Fafe, tradicionalmente, pelas festas da “Vila”. O jovem namorado, embora ficasse muito ofendido, não quis “fazer peito” e pacientemente deixou passar a procissão. No final deste acto religioso, o rapaz dirigiu-se ao fidalgo fazendo-lhe sentir o seu desagrado pelo gesto obsceno feito à sua namorada momentos atrás. O burguês, tirando a sua cartola da cabeça, fá-la passar junto da cara do rapagão que sentindo-se uma vez mais provocado, quis lavar a sua honra, desafiando o ricaço para um duelo. O desafio foi aceite. No momento de escolher as armas, foi pelo próprio povo que assistia à discussão, pedido aos homens desavindos que mantivessem a tradição do jogo do pau. O ofendido aceitou esta escolha popular das armas.

Pelos presentes foram então entregues aos rivais dois valentes “lódãos”.

A escaramuça começou. Ouviam-se, de vez em quando, os gemidos de dor dos homens quando sofriam as fortes pancadas, misturadas com o som do bater dos paus. Os populares que assistiam a esta renhida luta batiam palmas.

Era o delírio, há muito que não se via uma rixa destas.

O pobre rapaz deu tamanha lição de pancadaria no burguês que, fugindo a “sete pés”, abandonou rapidamente a Praça, ouvindo ainda o grito de todos os populares:

“VIVA A JUSTIÇA DE FAFE”!

“COM FAFE NINGUÉM FANFE”!