INAUGURAÇÃO DE UMA CRECHE DA FÁBRICA DO FERRO

 


A nova Creche "Auxílio às Mães"
Fotografia Alvão 1935

 

«Pró-Operariado!

Inauguração, na Fábrica do Ferro, dum masgestôso edifício-créche

A Fabrica da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe deu mais um passo na vanguarda do progresso a favor do operariado!

No dia 22 de Dezembro (1935) inaugurou-se no lugar do Ferro a nova Creche que o engenheiro delineador sr. Henrique Carvalho d’Assumpção batisou com o expressivo nome de Auxilio ás Mães.

A essa festa assistiram individualidades de representação do Porto e Fafe e os directores da Fabrica srs. Manuel Cardoso Martins e Albano Ribeiro Vieira de Castro.

«Auxilio ás Mães» é um edifício amplo, moderno, higiénico, elegante, com todas as divisões precisas, como poucos ou como talvez nenhum outro exista no paiz.

Ali é o repouso das crianças enquanto as mães trabalham. Ali se alimentam, se recreiam e se vão educando, limpas, cuidadas, asseadas.

Quem lhes dera a elas estar lá sempre…

Havia uma outra Creche, mas não satisfazendo á direcção, que queria coisa melhor e mais confortável, mandou edificar esse novo edifício, que mereceu a admiração e os elogios dos que o visitaram, porque marca.

Casa soberba por onde adeja a fraternidade, ela tem no magestoso primeiro andar, um harmonioso orfeão permanente, constituído por cento e vinte crianças.

Bendito auxilio esse aos que precisam e que trabalham. Se ele não fosse, quantas desenas de criaturas, impedidas pelos filhos, deixariam de ganhar o pão de cada dia!

Assim, livram-se de necessidades a elas e ás crianças, porque teem quem lhas acolha, quem cuide delas, sem outros cuidados que não sejam os do trabalho.

E as crianças medram e fortificam-se melhor, ficando, fisicamente, mais aptas para o futuro.

Abençoada iniciativa que sobremaneira honra Manuel Cardoso Martins e Albano Vieira de Castro, que o dr. Alfredo de Magalhães, que veio ali sem convite, mas para pesquisar da fama de que gosa a Fabrica, não hesitou, ao Porto, depois de verificar da real importância, de dirigir expressões de louvor e justiça aos dois directores da Companhia, emoldurando o seu esforço notável com palavras claras, eloquentes e francas como ele as sabe dizer.

Magalhães Carneiro, presidente do Conselho Fiscal da Companhia, regosija-se com os progressos que vê e diz que quanto melhores forem as condições de higiene em que o operário trabalhe, melhor é a sua disposição e mais inteligente o seu esforço, e, consequentemente, maior será o rendimento do seu trabalho.

São evocados os nomes dos extintos directores José Ribeiro e Manuel de Lemos pelo sr. Cardoso Martins, que, em palavras singelas mas sentimentais diz: - «Nada podemos fazer se os nossos operários não estiverem bem».

Sim senhor. Muito bem.

E, deste pensamento, é que, precisamente, nasceu a Escola, o Balneário, o Bairro, a Creche, etc.

O dr. Antonio Emilio de Magalhães, que vem seguindo de perto todos os progressos da fábrica e que falando com entusiasmo e claresa, gosta de apresentar exemplos, apela para os industriaes do Porto para que imitem o que a C. de F. e T. de Fafe faz no lugar do Ferro.

A festa do Ferro foi antecipada pela do Bairro Operario da Cruz, na qual se procedeu á distribuição de prémios aos alunos mais aplicados da Escola Manuel Cardoso Martins, sob a presidência do sr. Dr. Alfredo de Magalhães. Os prémios são valiosos e estimulantes. O sr. Dr. Alfredo de Magalhães acha os métodos modelares, faz o elogio do estimulo, lamenta que sejam tão poucas as empresas que saibam realisar uma obra social como a da C. de Fiação e Tecidos de Fafe e declara, convicto, sincero, que Fafe se deve orgulhar duma instituição que tanto a honra e prestigia.

Por fim, remata as festas a distribuição da consoada a 1.352 operarios, que vão saindo á formiga com a fornada à cabeça e nas mãos bacalhau e pacotes de arroz, açúcar, etc. – levando sorriso nos lábios, satisfação no coração.

E enquanto tudo isto se passa cá fora, no salão de cinema as crianças batem palmas de alegria pelo que a máquina de Hitzemann lhes apresenta na tela.

Beneficio para grandes e pequenos, lá dentro, e cá fora.

Um dia de alegria.»

In: O Desforço, 3 Janeiro 1935

 


Operários da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe frente ao edifício da nova creche (Auxilio às Mães. Foto "colecção particular" c. 1935.


Ligação externa

https://www.researchgate.net/publication/339365628_Casas_e_Fabricas_no_Vale_do_Ave_As_formas_do_paternalismo_industrial_na_Fabrica_do_Ferro_em_Fafe