MEMÓRIAS DA FREGUESIA DE FAFE
CORPO JUDICIAL DA COMARCA DE FAFE FELICITOU A SUBIDA AO TRONO DE D. PEDRO V EM 1855
«Felicitação que a digna corporação judicial da Comarca da Villa de Fafe enviou a S. M. El-Rei D. PEDRO V pela sua exaltação ao throno.
Senhor
O corpo judicial da comarca de Fafe, vem hoje submisso aos pés de Vossa Magestade desempenhar um dever cheio de jubilo e contentamento.
Nesta occasião solemne em que toda a Nação desde o sumptuoso palácio do grande até ao alvergue do pequeno, se vestiu de gala, por ver raiar a aurora do dia 16 de Setembro, dia duplicadamente fausto e memorando, por que não só abriu uma nova epocha para Portugal, mas tambem encheu de vivas e bem fundadas esperanças o povo portuguez, de ter em Vossa Magestade um reinado livre, prospero e feliz: sim nesta solemne occasião não podia deixar o corpo judicial da comarca de Fafe, de vir desta forma felicitar a Vossa Magestade por se assentar em um Throno cheio de gloriosas recordações, e no qual outr’ora se assentaram os sábios senhores D. Diniz, e D. Duarte; o querido e amado do povo portuguez o Senhor D. João I; o pacifico senhor D. Pedro II, e o venturoso senhor D. Manuel, os quaes todos Vossa Magestade não só imitará, mas até excederá, mostrando se um Rei tão sábio tão querido, tão pacifico, e tão venturoso, como elles o forão.
E’ Real Senhor o que de coração deseja a Vossa Magestade a corporação judicial da Comarca de Fafe, a qual apresentando a Vossa Magestade os seus vivos sentimentos e desejos, igualmente rende a Vossa Magestade um sincero tributo e homenagem da sua profunda submissão dedicação e obediencia, ditada não só pelo rigoroso dever, mas tambem pelo intimo jubilo e contentamento de que se acha possuida pela ascensão de Vossa Magestade ao Throno de Seus Augustos Maiores a Quem Deus conserve dilatados annos a preciosa vida.
Fafe 21 de Setembro de 1855
O Juiz de direito – Luiz Antonio Correa de Moraes e Amaral – O Juiz de direito 1º substituto – Francisco Leite de Castro – O delegado – José Guilherme da Costa (Lua), Contador e distribuidor – Joaquim Jose da Costa Novaes O escrivão de direito – João Bernardino Rodrigues Dourado. – O escrivão de direito – Estevão Pereira Leite – O escrivão de direito – Antonio Carlos de Araujo Motta. – O official de diligencias – Amaro Gonçalves – Idem – Antonio Baptista. – Idem – Pedro Cardozo.»
Fonte: “O Pharol do Minho”, nº 175, 18 de Outubro de 1855
Fonte:
https://www.csarmento.uminho.pt/site/s/hemeroteca-bpb/item-set/161602
Biografia de D. Pedro V
A SENHORA DE ANTIME NO ALMANACH DE LEMBRANÇAS LUSO-BRASILEIRO DE 1859
«Senhora d’Antime. – É uma romagem de máxima nomeada no concelho de Fafe e na parte oriental inteira do districto de Braga. Chama-se-lhe tambem romaria da Senhora do Sol e romaria da Senhora da Misericordia, em virtude do fervor das supplicas e do intenso da fé com que os povos se endereção a esta Senhora, nas faltas de chuva ou de sol.
A imagem da Virgem é de pedra fina (granito metamorphico), com braços postiços, e sem pés nem pernas, nem feitio algum de estatuária, alem do rosto unicamente. Tem outo arrobas de peso, e está collada em um tosco andor antigo de outo arrobas tambem, a que dão o nome de charola da Senhora.
Dá a tradição por apparecida esta imagem no Monte de S. Jorge, entre Fafe e Cepães, e entre a freguezia d’Antime igualmente; monte d’uma boa légua de comprido e meia légua de largo, onde abundão grandes pedreiras de pedra fina (granitos metamorphicos especialmente), d’envolta com granitos effusivos duríssimos, entre os quaes apparecem ás vezes bellos granitos porphyroides; granitos explorados todos incessantemente, e os metamorphicos sobre tudo, para as construcções nas convizinhanças de Fafe em redondo, até uma boa légua ás vezes.
Tambem n’este mesmo monte «de S. Jorge Magno», venera o povo o penedo da pegadinha, em commemoração da crença que tem, das pégadinhas que no dito penedo deixara impressas o jumentinho da Senhora, indo ella uma vez a cavallo por estes sítios.
Celebra-se a funcção da SENHORA D’ANTIME, com vésperas, no 2º domingo de Julho, na sua fréguezia reitoral de Santa Maria do mesmo nome, a um quarto de légua para o sul da villa de Fafe; fazendo-se pela manhã o anniversario das almas, com seu sermão appropriado á festa. No domingo de manhã, pela volta das 10 horas, sahe d’Antime para a igreja de Fafe a procissão da SENHORA, fazendo-se então nesta igreja matriz exposição do Sacramento, com sua missa cantada, e o competente sermão, e pela volta das 6 horas da tarde regressa para a respectiva fréguezia, no meio de numerosíssimo concurso de romeiros, como na sahida d’Antime para Fafe.
Era outr’ora ainda mais galhofeira do que hoje, esta romagem d’Antime: chegava quasi a delírio o affervorado das salvas da companhia de mosqueteiros da procissão, não só na sahida e na volta d’ella, mas sobre tudo no acommettimento de um castello fictício, de propósito erigido para dar mais realce á funcção e para a tornar mais estrepitosa; o castello a final tomado era abrasado em chammas pelos mesmos mosqueteiros, depois de finjido um apparatoso conflito de sitiantes e sitiados, e vencido a final o Rei mouro acastellado. Dá a tradição por origem d’esta finjida peleja, muito victoriada dos romeiros em chusma, a commemoração d’antigos feitos dos povos da localidade na expulsão dos mouros, quando era senhor e povoador de Fafe, nos primeiros tempos de nossa independência, D. Egas Fafes, filho aguerrido do aguerrido D. Fafez Luz, alferes do Conde D. Henrique, primitivo tronco genealógico da nossa dynastia affonsina.
No meio das folias e extravagancias da romaria, tem ficado algumas vezes esmagados alguns dos conductores da charola debaixo do seu excessivo peso. Costumão ser 16 em geral, para pegarem revesados aos oito braços, ou banzos da dita charola da Senhora, os valentões da procissão, valentões que se offerecem com antecipação de um ou dois annos ás vezes, e que não conseguem esta graça especial dos mesarios da Senhora, senão a poder de supplicas, empenhos e sollicitações. Não é todavia a mera ostentação de forças e de robustez de corpo a que assim faz deprecar a graça de carregar com os banzos da charola aos hombros: é especialmente porque têem para si os mancebos da localidade (Fafe e Antime sobre tudo) não serem bem succedidos nos seus casamentos, se não pegarem primeiro ao andor da Senhora. N’essa occasião, para elles da maior expansão de coração juvenil, costumão collocar esses mancebos dos banzos os seus ramos de perpetuas na charola, aos quaes se dá o nome sacramental de pinhas da Senhora d’Antime.»
J. J. da S. Pereira-Caldas (Braga)
TRASLADO DE DOCUMENTOS REFERENTES AO CASAL DE CALVELOS 1327
“Traslado dos
seguintes documentos referentes ao casal de Calvelos passado a requerimento do
mestre-escola do Porto e abade de S. Gens, em Guimarães, na casa dos tabeliães
a 6 de Maio da era de 1365:
1 – Resposta de Afonso Anes, juiz de
Montelongo, sobre a entrega do dito casal, escrita pelo tabelião de Montelongo
Giraldo Esteves a 19 de Outubro da era de 1344.
2 – Sentença de João Fernandes, juiz de
Montelongo, sobre demanda acerca do dito casal, escrita pelo mesmo tabelião a 4
de Maio da era de 1346.
3 – Declaração de Lourenço Rodrigues,
porteiro de Montelongo, acerca da entrega do dito casal, escrita em […] a 8 de
Outubro da era de 1347 pelo tabelião Estevão Pais.”
A IGREJA DE SANTA EULÁLIA ANTIGA DE MONTE LONGO NO "TRATADO HISTÓRICO DO REAL MOSTEIRO DE SANTA MARINHA DA COSTA" 1748
https://archeevo.amap.pt/details?id=114562
Igrejas anexas.
Tem este Mosteiro
cinco Igrejas anexas em que apresenta Curas: A de Santa Marinha da Costa, de
Santa Maria de Atães, de Santa Eulália de Barrosas, de Santa Maria de Pedroso,
e de Santa Eulália antiga de Monte Longo. (…)
A Igreja de Santa
Eulália antiga de Monte Longo foi doada a este Mosteiro por El Rei D. Pedro I
na Era de Cesar de 1398 que é o ano de Cristo de 1360, sendo Arcebispo de Braga
D. Guilherme, com obrigação de duas missas quotidianas cantadas, uma em sua
vida por ele e por estado real e depois da sua morte pela sua alma, outra por
alma de sua mulher D. Inês de Castro. Estas missas supõe-se entrarão na redução
como veremos no Cap. 16.
O traslado
autentico da doação está no nosso cartório, gaveta 11ª, nº 15.
A Corografia de
Carvalho diz que esta igreja fora Mosteiro, ainda que de Ordem não se sabe e
que se entende fora fundado por algum fidalgo dos do apelido Fafez, porque
dizem ser este o solar desta família, e que daqui fora Senhor D. Godinho Fafes,
filho primeiro de D. Fafes Luz, rico homem e Alferes do Conde D. Henrique, e
que esta Vila e Freguesia tomarão dela o nome. Não se sabe quando se extinguiu.
É esta igreja de
Santa Eulália antiga de Fafe a que mais vulgarmente se chama de Monte Longo,
não só a melhor que todas as outras que temos no rendimento, senão também das
melhores que há em todo o Reino nas indulgências de que goza por estar
incorporada à Igreja de São João de Latrão por Bula principia. Capitulum et
Canonic. Sacro Santa Latranensis Eulalia passada a 8 de Maio de 1610, sendo
Sumo Pontifice Paulo V, à instancia do Reverendo Francisco Bráz Abade de São
Clemente de Basto, Juiz da Irmandade de São Pedro, cita na Igreja da mesma
Freguesia de Santa Eulalia, e mais officiais e confrades. O Papa Bonifacio
disse que se os homens soubessem quantas são estas Indulgencias, não iriam a
Jerusalem nem a nem a Santiago de Galiza. O Papa Inocencio que são tantas, e
infinitas, que só Deus as pode numerar as quais todas confirmava.
Indo em visita o
ilustríssimo Dom João de Souza, repreendeu o Párocop por não ter fechadas as
portas da igreja, a quem este respondeu que nem sua Ilustrissima com com seu
Prelado as podia mandar fechar e perguntando a causa lhe apresentou a Bula.
Ficou o Prelado um pouco suspenso, rompendo depois nestas palavras: é possível
que esteja aqui o tesouro escondido no campo?
Faz-se nesta
Freguesia Endureças e Procissão de Passos.
Tem uma imagem de
muito concurso na capelinha de Santo Ovidio no primeiro domingo depois do dia
da Assunção de Nossa Senhora.
Andam arrendados
os dízimos desta Freguesia ao presente em sete centos mil réis. 700000.
Rende ao Cura seis
mil réis, dois alqueires de trigo, dois almudes de vinho, e duas libras de
cera, que lhe dá de Côngrua este Mosteiro: de obradas, cento e sessenta
alqueires de pão e dos seus passais, um ano por outro quarenta e uma […]
Em nenhuma as sobre ditas anexas pode pregar
Pregador algum de fora sem licença do Prelado deste Mosteiro por Provisão do
Ilustrissimo D. Rodrigo da Cunha passada a 28 de Março de 1632, e confirmada
pelo Núncio a 3 de Outubro de 1633. Confirmada tambem pelo Ilustrissimo D.
Rodrigo de Moura Teles a 20 […] e ultimamente por Provisão do Serenissimo D.
Joze passada a 27 de Abril de 1742.
A INAUGURAÇÃO DO TEATRO-CINEMA NA IMPRENSA LOCAL DE 1924
A inauguração do renovado teatro de Fafe, em 10 de Janeiro de 1924, uma aspiração antiga de muitos fafenses, que assistiram à “decadência” da antiga casa de espectáculos de Fafe, foi motivo de grande regozijo.
O promotor da obra, José Summavielle Soares, transformou um “velho barracão”em uma das melhores salas de entretenimento da região.
O acontecimento não passou ao lado da imprensa local da época; os semanários “A Democracia”, “O Desforço” e “O Fafense”, deram o merecido destaque à abertura pública do Teatro-Cinema, tecendo rasgados elogios ao edifício e ao seu promotor.
Foram dias de festa os que se viveram na vila de outrora, agradada com o importante melhoramento, cujo eco jornalístico damos a conhecer.
A DEMOCRACIA
«Uma festa interessante
A INAUGURAÇÃO
Do Teatro-Cinema de Fafe
Realizou-se no dia 10 do corrente a inauguração do novo teatro desta vila, reconstruído a expensas do grande benemérito de Fafe Ex.mo Dr. José Summavielle Soares.
Escolhida, para a Festa de Abertura, a companhia dramática da distinta actriz Aura Abranches, foi naquele dia levada á scena a soberba peça de Nicodemi «O Grande Amor».
A linda sala de espectáculos apresentava um aspecto brilhante.
Belamente iluminada com inúmeras lâmpadas eléctricas, destacava-se toda a sua suntuosa decoração, as lindas pinturas onde se sente perpassar o sopro da mais encantadora arte, os dourados fulgurantes, os motivos decorativos em tons graciosos e alegres, dando a tudo singular realce os bustos gentis das mais distintas damas desta vila que ocupavam os camarotes, quasi todas em lindas toilettes de baile.
A sala estava cheia, completamente cheia.
Pelas 21 e meia horas começou o espectaculo, sendo correcto o desempenho por parte de todos os artistas.
Cumpre especializar Adelina Abranches que interpretaram os seus papeis com inteligencia e sentimento, dando-lhes relevo e brilho.
No intervalo do 2º para o 3º acto quis a Câmara Municipal deste concelho testemunhar publicamente, naquela festa encantadora, o quanto Fafe deve ao homem ilustre que, sem se preocupar com interesses de mercantilismo, dotou esta formosa vila com tão importante melhoramento.
Convidado S. Ex.ª para ir ao palco, aí apareceu tambem a comissão executiva da Camara, composta dos Ex.mos dr. Artur Vieira de Castro, dr. Parcidio de Matos, dr. Manuel Moreira, Angelo Fernandes e Manuel do Vale Ribeiro, portanto o rico estandarte municipal o digno chefe da secretaria snr. Manuel Joaquim da Silva Peixoto.
O snr. dr. Parcidio de Matos, em frase burilada e correcta. Como sempre, fez um caloroso, mas justo elogio da obra já tão vasta do snr. dr. José Summavielle em prol desta vila, que disse ser a mais linda de Portugal.
Frisou como a sua passagem pela Camara Municipal foi profícua e inteligente, rasgando ruas, fazendo jardins, transformando largos, instalando a luz elétrica, fazendo o encanamento e aproveitamento das aguas para abastecimento da vila, etc. etc.
No hospital desta vila, onde durante alguns anos exerceu o cargo de provedor, tambem vincou bem a sua modelar administração, dotando o edifício, a par de outros importantes melhoramentos, com um lindo balneário e com uma sala de operações que é, sem duvida, uma das melhores da província.
Disse mais o snr. dr. Parcidio de Matos que S. Ex.ª, por último, brindara Fafe com uma sala de espectáculos tão linda, tão graciosa, como poucas haverá em Portugal.
E, frisando o que uma casa destas tem de útil e os benefícios que pode prestar sob o ponto de vista social e educativo, terminou por entregar ao homenageado o diploma de «Cidadão Benemérito do Concelho» com que a Câmara quis muito justamente honrá-lo, diploma que fora escrito em pergaminho e encerrado, com a cópia da acta em que tal deliberação foi tomada, numa rica pasta com emblemas em prata.
O sr. Dr. José Summavielle, visivelmente comovido, agradeceu a homenagem que vinha de lhe ser prestada, e afirmou que nada mais fazia, nada mais tinha feito do que o seu dever, pelo grande amor que consagra a esta linda terra.
Todos os espectadores, que de pé assistiram a esta homenagem, coroaram de estrondosas e prolongadas palmas tanto as palavras do snr. dr. Parcidio, como as do snr. dr. José Summavielle fazendo a este uma carinhosa ovação.
***
Terminado o espectaculo, realizou-se no amplo salão nobre do Teatro um baile oferecido pelo snr. dr. José Summavielle e ex.ma Esposa para solenizar a inauguração da nova casa de espectáculos.
O salão encheu-se com as mais gentis, com as mais distintas damas desta vila e algumas de fora, oferecendo um golpe de vista encantador.
Profusamente iluminado com artísticos lustres, o seu rico mobiliário, a sua pintura, os seus espelhos de cristal davam-lhe aspectos de uma grandiosidade enlevante.
Com a maior animação decorreu aquela linda festa até ás 7 horas do dia 11 dançando-se sempre com “entrain”.
Os Ex.mos dr. Summavielle e esposa e gentis filhinhas foram de uma amabilidade extraordinária para todos os convidados, que daquela festa, guardam, positivamente, as mais gratas impressões.
O serviço, abundantíssimo e primoroso, foi servido pela acreditada Confeitaria Oliveira, do Porto.
A orquestra para o baile foi a do Teatro-Circo, de Braga.
***
No dia 11 representou-se linda peça «Primorose», e no dia 12 «Madalena Arrependida» [texto ilegível].
Para terminar a série de récitas com que tão auspiciosamente foi inaugurado o novo teatro, levou á scena a companhia Aura Abranches o drama «Injustiça da Lei» cujo desempenho foi correcto, destacando-se, como sempre, Adelina Abranches, Aura Abranches e Alexandre de Azevedo.
No intervalo do 2º para o 3º acto deste ultimo espectaculo, o snr. dr. Jos´r Summavielle convidou a distinta atriz Aura Abranches para descerrar a lápide comemorativa da inauguração do teatro, que fora colocada no átrio do mesmo e se achava coberta com a Bandeira Nacional.
Nessa altura o Ex.mo dr. Manuel Morato, Juiz de Direito em Melgaço e que durante alguns anos exerceu nesta comarca o cargo de Delegado do Procurador da Republica, falou entusiasticamente, fazendo, num discurso elegante e alevantado, o caloroso elogio da obra do snr. dr. José Sumaviéle Soares, dirigindo tambem as suas felicitações á companhia dramática e á sua principal figura a gentil Aura Abranches.
Esta agradeceu em breves mas interessantes frases, dixendo graciosamente que ela e os seus colegas levavam de Fafe as melhores impressões, e que o povo desta terra se devia orgulhar do «amorzinho de teatro com que o snr. dr. Sumaviéle a quis dotar».
Em seguida a mesma distinta atriz descerrou a lápide de mármore, onde em letras de ouro se lê: «Inaugurado em 10-1-24 pela Companhia Aura Abranches».
O publico coroou esta cerimonia com entrepitosos aplausos, sendo levantados vivas ao snr. dr. José Sumaviéle, e a orquestra executou a Portuguêsa.
***
A orquestra dos espectáculos, sob a batuta do snr. Carvalho, regente da Banda de Revelhe, agradou muitíssimo, executando em todas as quatro noites de festa lindos trechos musicais.
Está-se procedendo no teatro á montagem do aparelho cinematográfico, que nos dizem ser o mais moderno e aperfeiçoado.»
In jornal “A DEMOCRACIA”, nº 129, 13 Janeiro 1924
O DESFORÇO
«Progresso de Fafe
Inauguração do «Teatro-Cinema»
Déz de Janeiro foi de festa para a nossa linda terra!
Inaugurou-se nessa noite o «Teatro-Cinema» - nome tão simples para obra tão grande.
As terras mais prosperas e mais formosas, os homens de mais talento e acção, as obras mais magnificas e mais encantadoras, são as que teem os nomes mais simples. Assim, este belo canteiro do Minho que todos admiram, chama-se só Fafe; um grande filho que se orgulha de possuir e que lhe tem dado dotes invejáveis, só quatro letras tambem tem o seu nome – Josè; a excelente obra da sua iniciativa que ahi se levanta na rua Mgr. Vieira de Castro é simplesmente - «Teatro-Cinema». Mais nada.
«Teatro-Cinema» lê-se cá fora: mas quem ler aquela singelesa de palavras não avalia o que lá dentro está: decoração a gosto, arte positiva, agradável disposição de tudo. Luxo e elegância desde o altivo salão níbre ao vasto palco e confortáveis camarins, desde a deslumbrante entrada principal á plateia, frisas e camarotes; desde o agradável terraço ao jardim lateraes.
Dignos de louvores são quantos colaboraram nesta obra importante: dignos de honra são: o técnico de «A Japoneza, Ld.ª», do Porto, sr. Duarte d’Almeida, que deu áquilo tudo um tom prodigioso, caprichando no mobiliário e adorno do salão principal, que é, no genero, um dos raros que devem existir; e os habeis pintores que com tintas multicolores fizeram realçar o tecto, imprimindo-lhe poesia e o artista da sacada em cimento que sobresae na frontaria.
«Teatro-Cinema» !
Quer dizer: ali, naquela casa modelo, poderão funcionar as melhores e maiores companhias e exibir-se as mais perfeitas fitas cinematográficas.
E assim foi que, quinta-feira passada, teve a honra de trabalhar pela primeira vez no sobredito teatro, inaugurando-o solenemente, a Companhia Aura Abranches, uma das melhores do paiz.
Representou O Grande Amôr, que maior não póde ser – o amor de mãe!
Aura Abranches, no papel de Maria Bini (professora) é que representou e muito bem esse grande amor. Perdêra uma filha que, devido á autoridade e inergia do sindico C. de F. (Sacramento) encontrara nove anos depois. No grande Amôr a distinta artista revelou naturalidade, arte, perfeição, como Adelina Abranches no papel de Directora se houve perfeitamente.
Mas quem foi a personagem mais importante da grande noite, da noite de triunfo, de alegria, de aféto, de galas, de glorias?
Foi precisamente, o homem de reconhecida inteligência e acção, o bairrista apaixonado, o engrandecedor de Fafe, o dono da admiravel casa de espectaculos que é o dr. José Summavielle Soares!
Foi ele, não podia deixar de ser!...
A Camara, representada pela sua ilustre Comissão Executiva – dr. Artur Vieira de Castro, dr. Manoel Moreira, Angelo Fernandes e Vale Ribeiro, com o seu estandarte, foi homenagia-lo ao palco, entre o 2º e o 3º actos, levar-lhe uma mensagem escrita em pergaminho e metida numa luxuosa pasta. Tinha-o proclamado cidadão benemérito do concelho de Fafe.
O ilustre vice-presidente dr. Parcidio, fez um discurso eloquente, brilhante, como ele sabe fazer, pondo em destaque a grande obra do filho desta terra: historiou a sua passagem pela Camara que foi eficaz, feliz, quer na abertura de ruas e aformoseamento de largos, quer na arborisação e jardinagem, etc.; deu luz á vila e resolveu as aguas na casa começada por seu avô José Florêncio Soares, a quem o orador aludiu com admiração e saudade; frisou a sua passagem pelo Hospital que dotou com um moderno balneário e perfeita sala de operações; não esqueceu porem a sua administração honesta, honrada, desinteressada; e toda essa obra coroada agora com a mais bela e moderna casa de espéctaculos que naquela noite se inaugurava.
Respondeu sua ex.ª de improviso com palavras felizes de vivo agradecimento, confessando o amor que alimenta por esta boa terra, mas como que querendo dizer que apenas cumpria o seu dever, que tudo isso que fez é pouco e que o teatro se deve a ele sim, mas que o auxiliou imenso a casa «A Japoneza Ld.ª», ali representada.
Valor e modéstia!
Quando a Camara apareceu no palco, as palmas foram estrondosas e demoradas, assim como depois do agradecimento do sr. Dr. Summavielle. A orquestra executou «A Portugueza» e tudo de pé e respeitosamente assistiu áquela passagem sublime da grande festa.
Estava feita a apoteose ao merecimento, ao trabalho, á honradez, á inteligência!
Grande Amôr!
Uma mãe que ali estava e que tem o nome de uma modesta mas linda flor – Margarida – como o devia sentir!
A outra alimentava o grande amor por uma filha que julgava ter perdido!
Esta, revigorava-lhe em labaredas, no coração, o grande amor por um filho que sempre tivera junto de si e que naquela noite de alegria via glorificado!
As mães querem aos filhos como Maria quis a Jesus!
Jesus foi unico no mundo!
Homens prodigiosos tem havido na terra!
Portugal tem tido grandes homens!
Ao lado dos homens importantes de Fafe enfileira em primeiro logar o dr. José Summavielle Soares!
E poderia enfileirar ao lado dos homens notaveis de Portugal se quizesse…
Na alta administração do Estado como seria desejada a sua colaboração!...
Não quere…
Fafe tambem precisa dele aqui para se engrandecer, para se elevar mais.
Fafe adora-o!
O teatro, repleto, na noite de 10 – senhoras e creanças, velhos e novos – mostrou quanto lhe quere, a simpatia que lhe dedica – nos aplausos que lhe fez.
Fafe!
Dr. José!
Simples nomes mas terra formosa, alma formosa!
Grande Amôr!
Grande amor que o segundo tem á primeira!
Bem escolhida peça de inauguração: - Grande Amôr!
Ao fim do terceiro acto da obra de Dario Nicodemi estava inaugurado com sumptuosidade o «Teatro-Cinema» a que concorreu bastante oficialidade do exercito, muitas famílias de fora e da terra.
A Camara, honrando, honrou-se!
O dr. José Summavielle atingiu o auge da estima!
E Fafe, que se deve orgulhar do monumento que ahi tem e que é uma honra para a terra, jamais deve deixar de concorrer a espectaculos ou cinemas, tal qualmente o fez na noite da inauguração e tres seguintes.
A seguir ao espectaculo realizou-se um baile no salão nóbrepara convidados da terra e de fora, que esteve animadíssimo, dançando-se até às 7 horas do dia 11-
“O Desforço”, admirador e amigo do dr. José Summavielle Soares, reitera-lhe os seus aplausos com um entusiástico e afétuoso:
Viva o dr. José Summavielle Soares!
***
Alem da imprensa local, assistiu ao espectaculo de inauguração o nosso presado colega do «Jornal de Noticias» do Porto sr. Armando Gonçalves, funcionário superior da Camara do Porto.
- «A Japoneza, Ld.ª», do Porto, foi a que ofereceu para o espectaculo de inauguração os lindos programas profusamente distribuídos.
- a orquestra, sob a regência do snr. Joaquim Carvalho, que executou admiravelmente, era composta de amadores e profissionais da terra.
- O pessoal do teatro usa todo fardas.
As três lindas peças que se apresentaram nas noites seguintes - «Primerose» e «Injustiça da Lei», agradaram muito, sendo os interpretes entusiasticamente ovacionados.
***
No domingo, entre o 2º e o 3º actos, o sr. Dr. Summavielle convidou a laureada actriz Aura Abranches a fazer o descerramento de uma placa de mármore com letras douradas colocada no átrio, onde leu, com surpresa para ela, os seguintes dizeres: - «Inaugurado em 10-1-24 pela Companhia Aura Abranches».
Falou nessa ocasião o snr. dr. Manoel Morato, ex-delegado nesta comarca e actualmente Juiz de Melgaço, que elogiou em frases elegantes a obra do dr. Summavielle, dizendo que ela trazia grande beneficio para a população deste concelho, quer pelo lado recreativo, quer pelo lado educativo e que sua ex.ª tinha tido a feliz ideia de escolher para a inauguração uma das melhores companhias portuguezas dirigida pela gentil actriz Aura Abranches-
Esta agradeceu graciosamente em palavras breves mas distintas, fazendo o elogio de Fafe de onde leva as mais gratas e saudosas recordações – e do seu povo, que é um povo educado, felicitando-o pelo bijou que possue. Palmas e vivas ao dr. Summavielle.
As gentis filhas deste ilustre homem ofereceram á Companhia dois lindos ramos de flôes naturais.
Rematou a cerimónia com a execução da «Portugueza»
In jornal “O Desforço”, nº 1592, 17 Janeiro 1924
O FAFENSE
«SOLÉNE INAUGURAÇÃO
Do
TEATRO-CINÊMA DE FAFE
Reconstruido a expensas do grande fafense, S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares foi inaugurado no passado dia 10 do corrente, com extraordinário brilho e pompa, o novo teatro desta vila.
Esteve um acto sobremaneira digno de assunto. Imponente e magestosa foi essa festa, não só por o que ela representava, como tambem pela merecida homenagem que a digna Camara de Fafe rendeu a um dos mais distintos Homens do concelho.
O tema é vastíssimo e quasi igual á nossa boa vontade; porem, não nos passa pela mente a mais ligeira sombra de vaidade de o desenvolver. No conjunto destas circunstancias aí vai, á vol-d’oiseau, a descrição dessa suntuosa festa.
9 horas. Noite de inverno. Apesar da chuva miúda e impertinente que caía, notava-se grande movimento á porta do teatro. Escolhendo caminho seguro entre os automóveis e trens, detivemo-nos alguns momentos no vestíbulo, e depois, um pouco a custo, entramos.
A plateia e camarotes já se achavam literalmente repletos!
Que aspecto! Que efeito surpreendente!
Aquele teatro tão mimoso, tão colorido, tão cheio de luz, destacando as vaporosas e garridas toilettes de baile, que as gentis senhoras da nossa mais fina elite ostentavam, deu-nos a viva impressão dum descomunal e perfumado crisântemo, carregado dum sem numero de multicolores borboletas!
Belamente impressionados, recostamo-nos ao nosso fauteiul.
Corremos a vista em redor, e, depois de ouvirmos um pouco a rasoavel orquestra, subiu o pano, e a Aura Abranches encetou a representação da peça de Nicodemi, «O Grande Amor». Foram 3 actos emocionantes! Amor de mãe! E’ realmente o único amor a que se pode chamar Grande!
Dario Nicodemi não procurou somente escrever (como uma boa parte dos que escrevem para teatro) uma fantasia sugestionadora, não. A tortura d’aquela alma pela anciã de voltar a ver a sua filhinha querida diz muito mais.
Valendo-se d’um caso da vida pratica, Nicodemi prova-nos edificantemente a incomensurabilidade dum coração de mãe.
O desempenho, conquanto o Sacramento não estivesse nos seus dias felizes, satisfez, tendo que salientar-se o magistral trabalho da grande artista Adelina Abranches.
Passemos ao que mais importa. Aproveitando o intervalo entre o 2º e 3º acto, a digna Camara de Fafe, que tinha resolvido, em acta já lavrada, conceder a justa e bem merecida honra de Cidadão Benemerito do Concelho a S. Exª o Snr. Dr. Sumaviele Soares, veio ao paleo acompanhado de S Ex.ª
Nessa ocasião o imenso auditório ergueu-se, e o ilustre advogado desta vila Dr. Parcidio de Matos, em nome da Camara de Fafe, frisou numa alocução brilhante o quanto S. Ex.ª o Snr. Dr. Sumaviele Soares tem feito por esta linda terra. Feita a entrega do diploma que uma rica pasta encerrava, acabou por dizer que S. Ex.ª tem no coração de todos os Fafenses um verdadeiro altar de veneração.
O Snr. Dr. Sumaviele Soares, visivelmente comovido, agradeceu, e, com chave doiro, como sempre, modesto, fecha o seu eloquente discurso, dizendo: - «De forma alguma quero roubar, com o desalinho e desbarato das minhas simples palavras, o precioso tempo que resta para nos devertirmos».
Uma estrondosa salva de palmas rebentou por todo o auditório, sendo S. Ex.ª muito felicitado.
A noite acabou por um animado baile á rigore, oferecido por S. Ex.ª e Sua Ex.ª Esposa no Salão Nobre do Teatro, e para o qual, somente se achavam convidadas as melhores famílias da nossa Sociedade. Consta-nos que decorreu muito animado, e que foi esplendidamente servido. Acabou ás 7 da manhã.
No dia 11 representou-se a «Primorose», e no dia seguinte a «Madalena Arrependida».
Por absoluta falta de espaço é-nos interamente impossível fazer referencias sobre estes espectáculos, contudo, precisamos frisar, que tanto as peças como o desempenho, satisfez cabalmente.
A serie de representações da inauguração terminou com a peça «Injustiça da Lei», sendo, no intervalo do 2º para o 3º acto da referida peça, descerrada, pela distinta atriz Aura Abranches, a lápide comemorativa da inauguração do Teatro, e na qual se lê: «Inaugurado em 10-1-24 pela Companhia Aura Abranches.
Nesta altura o Ex.mo Dr. Manuel Morato, muito digno Juiz de Direito em Melgaço, fez num caloroso discurso o elogio da grandiosa obra de S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares, e, na pessoa da gentil e distinta atriz Aura Abranches, dirigiu tambem as suas felicitações à Companhia Dramatica.
Aura agradece com talento e graça, coroando o publico esta cerimónia com muitas palmas e vivas a S. Ex.ª o Dr. Sumaviele Soares.
O serviço de Bombeiros foi feito pela denotada corporação dos Bombeiros 28 de Julho desta vila.
In jornal “O Fafense”, nº 11, 27 Janeiro 1924
Fachada do Teatro-Cinema, c. 1924 |
FAFE NO DICIONÁRIO “PORTUGAL ANTIGO E MODERNO” DE PINHO LEAL – 1874
FÁFE – villa, freguezia, Minho, 10 Kilometros de Guimarães, 30 Kilometros ao NE. de Braga, 365 ao N. de Lisboa, 530 fogos (2:100 almas) no concelho 6:050 fogos, na comarca os mesmos.
Em 1757 tinha 342 fogos.
Orago Santa Eulália.
Arcebispado e districto administrativo de Braga.
Fafe era uma importante freguezia, e foi elevada a villa em 1840. Diz-se que Fafe tomou o nome de D. Fafez Luz, rico homem e alferes-mór do conde D. Henrique, pae de D. Affonso I.
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Grande romaria a Nossa Senhora d’Antime ou Senhora da Misericordia, ou do Sol.
A imagem é de pedra, e com a charola pesa 24 arrobas!
Outros dizem que a senhora pesa 8 arrobas, e o andor, que tambem é de pedra (!) outras oito. Levam-a na procissão os maiores valentões da freguezia.
A imagem da Senhora é de granito metamorphico, com braços postiços e sem pernas nem pés, nem feitio algum de gente, alem da cara. São 8 rapagões que levam a charola e a Senhora, mas vão outros oito para os revezar. Apesar da sua valentia, por varias vezes teem alguns ficado esmagados debaixo da imagem; mas, mesmo assim, ha grandes empenhos para levarem a charola, porque teem fé de serem bem succedidos, nos seus casamentos, se tiverem sido conductores da santa.
Já dos nossos dias, um dos que ajudava a levar a Senhora, andava picado com outros dos conductores, e ao dobrarem uma esquina, tal geito deu, que o andor cahindo sobre o seu inimigo, o matou logo, ficando esmagado; mas ersta morte foi immediatamente vingada por um terceiro, que deu no tal amigo uma choupada, matando-o immediatamente e ficando a santa e a charola cheios de sangue!
Fafe era antigamente concelho de Monte-Longo, a qual D. Manuel deu foral em Lisboa, a 5 de Novembro de 1513.
A villa tem uma só rua, mas tem boas casas. Ha aqui feira no primeiro de cada mez e na Pica aos 18.
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Em Fafe nasceu o bacharel José Cardozo Vieira de Castro, filho do desembargador Luiz Lopes Vieira de Castro. José Cardoso foi deputado e era bom orador e de muita intelligencia. Tendo ido ao Rio de Janeiro dar mostras do seu talento oratório, casou com uma brasileira. Regressando com a mulher a Lisboa, deu entrada em sua casa a um sobrinho do immortal Garrett, por nome José Maria d’Almeida Garrett, jovem de muita intelligencia, mas de uma devassidão proverbial. Tendo José Cardozo (ou julgando ter) provas do adultério de sua mulher com Garrett, estrangulou-a. Foi em 1871 degredado por 15 annos para Africa, onde morreu a 5 de Outubro de 1872, de febre perniciosa. Um anno, dia por dia, depois de chegar a Africa. Morrreu em Loanda.
Muito se tem dito e escripto contra José Cardozo. Eu, que não sou nada, e me acho segregado do mundo, penso sobre este trágico successo do modo seguinte.
Se não precedessem ao facto certas circumstancias, estava Cardozo, plenamente justificado pela sociedade; porque todo o homem de bem, todo o homem d’honra, no primeiro impulso do seu furor faria o que elle fez; faria até mais porque mataria os dois adúlteros.
O que é certo é que a mulher morreu assassinada e que e que o assassino morreu no degredo e assim se annullou uma inteligência que podia vir a ser utilíssima á patria.
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No monte de S. Jorge Magno ha grandes pedreiras de granito metamorphico e porphiroide, optimo para construcções. É proximo da villa. N’este monte venera o povo o Penêdo de Pégadinha, no qual deixara impressas as suas santas patas, a jumentinha da Nossa Senhora, quando esta aqui passou a cavallo, na fugida para o Egypto!!!
É fertil em trigo, vinho e algum azeite.
Muitos gados, mel e cera, caça e pesca (em 3 regatos que nascem no concelho e formam o Vizella.)
Teve um antiquíssimo mosteiro, ignorando-se quando deixou d’existir para ser unido ao de Santa Marinha da Costa.
A 12 kilometros de Fafe, próximo ao logar de Luilhos, uma rapariga descobriu, por acaso, em pricipios de 1870 uma nascente d’agua que rebenta d’uma rocha e que se diz ser efficaz para curar toda a qualidade de moléstias cutâneas e outras. Já alli corre muita gente. O povo diz que alli proximo está enterrado S. Silvestre; pelo que chama esta fonte Banhos de S. Silvestre. Tem um cheiro particular e é muito límpida e leve.
Apesar da aridez do sitio, está alli um arraial com barracas de comida, muitas pipas de vinho etc.
Nas escavações que se fizeram em Junho de 1870, para a construção d’uma capella, proximo á villa, apareceram vários objectos e entre elles differentes moedas, cujo metal e nacionalidade se ignora, por estarem muito corroídas da ferrugem.
É tradição que este logar foi occupado (e habitado) pelos celtas. Outros dizem que pelos romanos.
A irmandade da Misericordia foi instituída a 23 de Março de 1862, mas a primeira pedra do hospital de S. José, que ella administra, foi lançada a 6 de Janeiro de 1859, e em 19 de Março de 1863 foi aberto aos pobres. É um elegante e vasto edifício, em optimas condições. Foram seus fundadores José Florêncio Soares e outros negociantes d’aqui, estabelecidos no Brazil. Os estatutos, foram feitos em 23 de Março de 1882. O povo d’aqui tambem concorreu muito para esta obra. A sua receita ordinária é de 829$772 rs. E a extraordinaria de 432$364 rs. A despeza obrigatoria é de 776$472 rs., e a facultativa 379$114. Ainda são precizos 16 contos de réis para a comclusão d’este estabelecimento de caridade, que nos primeiros trez annos já tratou 210 doentes. Os poderes publicos, longe de subsidiarem este estabelecimento e procurarem o seu desenvolvimento, teem procurado varios meios de o prejudicarem e embaraçarem. É seu actual provedor (o 1º) o sr. José Florencio Soares.
Em Janeiro de 1874, falleceu em Lisboa, Antonio Joaquim Vieira Montenegro, que foi um rico negociante, noo Brazil. Era natural de Travassós, d’este concelho.
Deixou ao hospital de Fafe, 2 contos de réis fortes. A’ camara municipal da mesma villa, 7 contos de réis, para mandar construir uma casa na freguezia de Travassós, para escola de meninos: 14 contos de réis, para a mesma camara mandar construir uma casa para asylo de meninas pobres, das diferentes freguezias d’este concelho.
Tambem deixou ao hospital de S. Domingos de Guimarães, um conto de réis fortes.
O mosteiro de monges Jerónimos, de Santa Marinha da Costa, de Guimarães, apresentava o vigário, que tinha 100$000 réis.
A comarca de Fafe, é composta somente do seu julgado.
O concelho comprehende 35 freguezias, todas no arcebispado de Braga; são as seguintes:
Antime, Armil, Agrella, Arões (S. Romão), Arões (Santa Cristina), Aboim, Arnozella, Cepães, Esturãos, Fafe, Felgueiras, Fornélos, Freitas, Fareja, Gontim, Gulães, Médêllo, Monte, Moreira, Pedrahido, Paços, Queimadella, Quinchães, Regadas, Revelhe, Ribeiros, Serafão, Seidões, S. Gens, Silvares (S. Clemente) Silvares (S. Martinho), Travassós, Varzea-Cóva, Villa-Cova, e Vinhós.
A pouca distancia de Fafe, na serra d’Arga (ou Agra) nasce o rio Ave, que passando junto a Guimarães e outras povoações, entra no Oceano, em Villa do Conde.»
In Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de, Diccionario Geographico, Estatistico, Chorografico, Heraldico, Archeologico, Historico, Biographico e Etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias. Se estas são notaveis, por serem patria d’homens celebres, por batalhas ou noutros factos importantes que nellas tiveram logar, por serem solares de familias nobres, ou por monumentos de qualquer natureza, alli existentes. Noticia de muitas cidades e outras povoações da Lusitania de que apenas restam vestígios ou somente a tradição, Vol. 3, Lisboa 1874, pp. 131 a 133
https://genealogiafb.blogspot.com/2015/02/portugal-antigo-e-moderno-diccionario_27.html
Biografia de Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal
http://www.arquivoalbertosampaio.org/details?id=21081